Comida pode ser viciante?
A noção de que a comida pode ser viciante tem sido discutida há algum tempo mas costuma ser rejeitada por nutricionistas e pesquisadores. Contudo, no início do ano a secretária de saúde do EUA, Kathleen Sebelius, disse que, para alguns, a obesidade é “um vício como o tabagismo”. Um mês antes, a Dra. Nora Volkow, diretora do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas, deu uma palestra na Universidade Rockefeller, onde disse que vícios alimentares e drogas têm muito em comum, particularmente na maneira que ambos interferem nas partes do cérebro relacionadas ao prazer e ao auto-controle.
Pesquisadores das Universidades de Princeton e da Flórida, descobriram que ratos que são liberados para comer açúcar à vontade mostram sinais de abstinência parecidos com viciados em ópio quando o açúcar é retirado, incluindo dentes batendo, patas dianteiras tremendo e tremores em todo o corpo. Quando foi permitido aos ratos retomar a ingestão de açúcar duas semanas mais tarde, eles pressionavam a alavanca de alimentação de tal modo que consumiram 23% mais do que antes. Cientistas na Califórnia e na Itália informaram no ano passado que os sistemas digestivos de ratos em uma dieta de líquido gorduroso começou a produzir endocanabinóides, produtos químicos semelhantes aos produzidos pelo uso de maconha.
No início deste ano, cientistas da Oregon Research Institute conduziram estudos acompanhando tomografias do cérebro de crianças quando viam imagens de milkshakes de chocolate e depois consumiam shakes. Suas descobertas sugerem que, assim como usuários de drogas e alcoólatras precisam de doses cada vez maiores ao longo do tempo, as crianças que são consumidores regulares de sorvetes podem querer quantidades cada vez maiores de sorvete para os centros de recompensa de seus cérebros indicarem que estão satisfeitos.
Dra. Pamela Peeke, professora assistente da Universidade de Maryland e autor de “O Conserto da Fome”, diz que a meditação e exercícios podem ajudar o cérebro a superar o vício em comida. Como um usuário de heroína pode contar com a metadona, um opióide sintético usado para aliviar a retirada da heroína, os viciados em alimentos, diz ela, deve buscar alternativas que ainda dão prazer como um smoothie de frutas, por exemplo, em vez de sorvete.
O vício em comida parece estar ligado aos tipos de alimentos que se consome. Dra. Kelly D. Brownell, diretora do Rudd Yale Centro de Política Alimentar e Obesidade, lembra que o corpo humano é biologicamente adaptado para lidar com os alimentos encontrados na natureza, alimentos não processados.
“Nós não abusamos de alface, nabos e laranjas”, diz o Dr. Brownell, co-editor do novo livro “Food and Addiction”. “Mas quando um alimento altamente processados é ingerido, o corpo pode ficar confuso. Ninguém abusa de milho, pelo que eu saiba, mas quando você o transforma em Cheetos, o que acontece? “
Dr. David A. Kessler, ex-comissário do FDA americano, agência que regula remédios e comida nos EUA, descreveu esses produtos como alimentos “hiper-palatáveis” criados para atormentar as nossas papilas gustativas, concentrando-se na combinação certa de ingredientes salgados, doces e gordurosos, juntamente com o paladar perfeito.
Dr. Brownell diz que a ciência do cérebro deve levar-nos a questionar como as empresas de alimentos estão manipulando seus produtos para nos viciar. “Com esses alimentos, vontade pessoal e bom senso podem ser subjugados. As pessoas querem esses alimentos, sonham com estes alimentos, chegam a implorar por eles.”
Fonte: The Well Column do NYTimes
Comentários